Sexta Livre

Projeção e bate papo com Renan Cepeda
Há pouco mais de 4 anos, Renan Cepeda partiu para registrar casas abandonadas na região de Vão das Almas, Goiás, numa comunidade kalunga – descendentes dos quilombolas que ainda guardavam hábitos e crenças do período colonial. Poderia ter documentado o assunto com equipamentos recentes, para valorizar detalhes, cores, vibrações de luz de uma região banhada pelo sol causticante do cerrado brasileiro. No entanto, optou por fazer fotos noturnas com uma câmera alemã analógica, de 1952, para revelar essa cultura esquecida pela sociedade, abandonada no tempo, perdida no espaço contemporâneo do instantâneo. Cepeda iluminou com sua lanterna as casas, as pessoas, os objetos, a natureza desse universo peculiar. Escolheu o que mostrar, valorizou os detalhes de sua preferência, incluindo informações, escrevendo, riscando a realidade que quis registrar. A opção pelo uso do light painting – uma técnica artesanal, sem qualquer tipo de manipulação, seja em laboratório ou por computador – foi crucial para obter as imagens dotadas de forte carga poética. O longo tempo de exposição (uma fotografia pode levar até 90 minutos para ser feita, deixando registrado até mesmo o movimento das estrelas e dos astros) e as dificuldades de locomoção para chegar aos locais que quer fotografar nos faz lembrar as aventuras enfrentadas pelos primeiros fotógrafos expedicionários que se deslocaram aos locais mais ermos e distantes para registrar suas belezas e exotismos. Sua pesquisa se expandiu para outras regiões do Brasil: Caraíva, Corumbaú e Lavrinhas na Bahia; Vale do Catimbau em Pernambuco; Brejo do Cruz na Paraíba; Vão de Emas em Goiás e Vargem Alta no Estado do Rio. (Extrato de texto de Marcia Mello para a exposição Night Paintings, na Galeria TEMPO)