Exposições
Tornaras | Rodrigo Pinheiro
Sobre o autor
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em cinema e co-dirigiu dois longas documentários, além de experimentos e filmes-ensaio. O documentário “Sob o olhar de Clarice”, um estudo sobre identidade, pseudônimos e múltiplas personalidades, foi lançado e produzido por Luiz Fernando Carvalho. Em abril de 2018 publicou de forma independente o fotolivro “Tornaras” com uma edição limitada de 100 cópias. O fotolivro teve um lançamento especial na SP-Arte/Foto e ganhou alguns prêmios, incluindo Melhor Portfólio no Festival Fotorio Resiste 2018, Melhor Portfólio no Ateliê da Imagem 2018 e um dos 7 destaques do ano na convocatória ZUM, realizada pelo Instituto Moreira Salles (IMS) e Revista ZUM. Idealizou, com Ton Zaranza e Rochelle Guimarães, a editora independente “Chorona”, dedicada a fotografia e literatura. Desde então viaja para feiras e festivais de publicações independentes.
Texto crítico
Tornaras | Fato e ficção
Desenho no lençol da cama, duplas de objetos, escultura de tesouras. A natureza morta – viva – lentamente vai perdendo o viço. Uma torneira toca outra torneira, determinando um constante fluxo interno e encenando um beijo eterno. Um e outro ser.
O recorte curatorial proposto em Tornaras, exposição inaugural de Rodrigo Pinheiro, evidencia símbolos, através de registros de objetos e momentos ligados a uma convivência amorosa. A presença humana se faz sentir no vestígio de uma ação, numa encenação, na construção de um objeto, sempre afetivo e poético. Emblemas, fragmentos, rastros de um movimento nos incitam a fabular e imaginar os personagens da trama num jogo onírico de percepções.
A fotografia está, indubitavelmente, ligada ao registro de um mundo visível, seja ele factual ou ficcional. Tem, também, a capacidade de representar ideias, sentimentos, realidades internas, indo, assim, bem além de mero “fragmento do real”. Nesse contexto, Rodrigo Pinheiro usa a fotografia como instrumento de construção do seu próprio imaginário e estado psíquico, reconstruindo memórias como estratégia de reviver, rever e transformar sentimentos do passado, fluidificando potências. Sobre a performance para a câmera, confidencia: “Estes são lugares reais, lá onde tudo aconteceu”. Pinheiro substitui um real por outro real, a fotografia é seu instrumento de ação.
Através do tempo retido no filme, o amor retorna e se transforma; o amor toma forma para, finalmente, tocar o outro: o observador da imagem inventada.
Claudia Tavares e Marcia Mello
Curadoras