Exposições
Symbiosis | Roberta Carvalho
Sobre o autor
Roberta Carvalho é artista visual. Estudou artes visuais na Universidade Federal do Pará. Mora hoje entre
Belém e São Paulo. Desenvolve trabalhos na área de imagem, intervenção urbana e vídeo arte, sendo
vencedora de diversos prêmios, entre eles o Prêmio Diário Contemporâneo (2011) e o Prêmio FUNARTE
Mulheres nas Artes Visuais (2013). Foi bolsista de pesquisa e criação artística do Instituto de Artes do Pará
(2006 e 2015). Seus trabalhos integram acervos como o do Museu de Arte Contemporânea Casa das 11
Janelas e Museu da Universidade Federal do Pará. Participou de diversas exposições, entre elas “Tierra
Prometida”, Casa America Catalunya, Barcelona – 2012, Vivo Arte.Mov 2011, Projeto Grande Área Funarte,
SP, 2014, Festival Visualismo, RJ, 2015, Future House Adidas, SP, 2016, “Portas abertas Doc Galeria”, SP,
2016. Foi um dos destaque no Festival Paraty Em Foco. É Idealizadora do Festival Amazônia Mapping,
iniciado em 2013.
Texto crítico
Symbiosis
Roberta Carvalho projeta grandes imagens – rostos e corpos aparentemente imóveis – sobre o volume da folhagem das árvores. Até aí, parece não haver nada que diferencie seu trabalho das grandes projeções de imagem produzidas pela publicidade ou mesmo por outros tantos artistas contemporâneos que se dedicam a esta mídia. O que define a singularidade do trabalho é um conjunto de elementos sutis que começa na observação do espaço urbano e sua paisagem arbórea; se estende na compreensão da presença e do fluxo dos passantes e habitantes daquele determinado lugar e se amplia no uso da técnica e na escolha das imagens a serem projetadas. O trabalho se desdobra em ações e experiências, em processo contínuo que se configuram como intervenção urbana, na qual estão em jogo arte, natureza e cultura. Nesse jogo, a artista procura no termo proveniente da ecologia – Symbiosi – a base de sua experiência de união de duas matérias distintas, da “…relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes. E é dessa forma que a symbiosi, aqui proposta, ocorre. Dois entes: imagem e natureza, sendo a natureza hospedeira da arte, criando com ela um novo ser, um UNO”, declara a artista.
As imagens projetadas são, em sua grande maioria, rostos cuja imobilidade constante é repentinamente quebrada por leves movimentos dos olhos ou da cabeça. O retrato gigante suspenso na copa da árvore de repente se move e surpreende a atenção do passante. Toda a volumetria da árvore é absorvida, e o rosto adquire uma tridimensionalidade que incorpora a sua forma. Os olhos imensos da árvore nos observam. A paisagem nos contempla, age sobre nós pondo em jogo uma situação mais complexa: a ideia de árvore como cultura, e não unicamente como natureza. A árvore urbana faz parte de um projeto de cultura, um projeto urbano. Nesse sentido, a relação proposta pelo trabalho se daria entre imagem, cultura e paisagem em que a natureza seria um conceito em crise.
Também em crise está o suporte da imagem, assim como a própria fotografia: estática e em movimento; matéria e não-matéria; dentro e fora da galeria. As dualidades ou ambiguidades materiais do trabalho de Roberta permitem ao público ter qualidades diferentes de apreensão. As grandes projeções no espaço se transformam também em fotografias como uma espécie de performance que, na materialidade do suporte em papel fotográfico, ganha uma narrativa em processo na parede da galeria. As esculturas de luz acontecem no tempo da ação, porém se transformam na suposta fixidez da imagem fotográfica já como paisagem reinventada pela cultura tecnológica. Experimentamos diante desses seres gigantes, em seus breves movimentos, a sensação das rápidas lembranças que aos poucos vão se constituindo na duração mais longa da memória.
Mariano Klautau Filho